Sistema de graduação

A graduação baseada na troca de faixas, presente na maioria das artes marciais, é um assunto que sempre instigou o imaginário popular. Desde filmes e séries até campeonatos marciais transmitidos na televisão, contribuíram para criar uma mística por trás desse tipo de sistema de graduação. Mas qual é de fato sua importância dentro da arte marcial?

Como uma escola tradicional de Kung Fu, a Punhos Unidos utiliza a graduação por faixas como a base para construção de um sistema hierárquico, onde os alunos mais velhos sempre possuem mais responsabilidade, como também instruem e servem de exemplo para os mais novos. Além de ser um sistema que simboliza não apenas o desenvolvimento técnico do aluno, mas também o desenvolvimento mental e ético.

Os exames de graduações, onde se dá a trocas de faixas, ocorrem uma vez por ano em todas as unidades. A cerimônia é tradicional e de extrema importância para o crescimento e desenvolvimento de todos os praticantes e da escola. Entretanto é importante lembrar que os alunos estão sendo avaliados em sua técnica, dedicação e comportamento ao decorrer de todo o ano.

A jornada é por vezes mais importante que o destino. O crescimento e desenvolvimento pessoal adquirido e o interesse demonstrado pelos alunos durante o ano, importam tanto quanto a performance apresentada no dia da graduação. O verdadeiro valor reside na transformação ao longo da jornada, pois são as lições aprendidas e o esforço contínuo que moldam o indivíduo, não apenas o momento da conquista final.

A hierarquia

Na Punhos Unidos, a hierarquia é dividida através das faixas, onde cada nível recebe sua denominação específica, ficando da seguinte forma: 

Sidais: significa irmão ou irmã mais novo, compreende os praticantes das faixas branca, amarela, vermelha, verde e azul;

Instrutores: é a denominação dada para os alunos na faixa marrom;

Sihings e Sijes: significam respectivamente irmão e irmã mais velhos, compreende os praticantes faixas pretas de primeiro grau;

Sifu: significa pai ou mãe, compreende os praticantes faixas pretas a partir do segunda grau;

A Mestre Renata Balestrini é a fundadora da Punhos Unidos e está no nível máximo da hierarquia.

Deveres e responsabilidades

Em cada faixa, os alunos mais velhos carregam consigo um conjunto específico de deveres e responsabilidades que se acumulam, requerendo dos mais experientes um cuidado maior não apenas com a escola, mas também com os colegas mais novos. Cada faixa carrega também uma palavra-chave que simboliza a virtude que o aluno deverá trabalhar melhor durante o ano.

Faixa branca (Paciência)

Os praticantes na faixa branca, inicialmente, não assumem responsabilidades com a escola; seus deveres se limitam ao respeito pela hierarquia e ao aprendizado das técnicas, costumes e tradições do Kung Fu Hung Gar tradicional. Nessa fase, a virtude primordial a ser cultivada é a paciência. É comum que os novos alunos ingressem com empolgação e entusiasmo para absorver novas técnicas, ansiosos por dominar habilidades avançadas rapidamente. Portanto, é crucial que o aluno trabalhe a paciência, compreendendo que o aprendizado é gradual e requer dedicação ao longo do tempo.

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.” – Confúcio.

Faixa amarela (Determinação)

Ao alcançar a faixa amarela, espera-se que o novo graduado zele pelo local de treino como se fosse sua própria casa. O aluno se torna genuinamente parte integrante do sistema Hung Gar, sendo esperado que ele interaja e auxilie os iniciantes, apresentando-lhes os costumes e orientando-os sobre o funcionamento da escola, além de incentivar a organização e a limpeza. 

Nesta fase, a virtude preeminente a ser cultivada é a determinação. É onde o praticante entenderá que a realização de objetivos, exige um comprometimento sólido e contínuo, refletindo não apenas habilidades físicas (quando falamos das artes marciais), mas também uma resoluta vontade de progredir e superar desafios.

“Entre o desejo, e o alcance, apenas dois moradores, o esforço e a determinação.” –  Provérbio Chinês

Faixa vermelha (Dedicação)

O faixa vermelha desempenha um papel versátil, atuando como um elo entre os alunos, podendo corrigir comportamentos inadequados de forma educativa. Se um aluno mais novo cometer um equívoco, como negligenciar um protocolo, é incumbência do faixa vermelha corrigi-lo, sempre mantendo uma postura respeitosa e explicando as regras para cultivar um ambiente correto na escola. Não é necessário ser o melhor em técnica, mas sim demonstrar uma determinação, dedicação e disciplina exemplares.

A virtude a ser trabalhada nessa etapa é a dedicação. É a determinação incansável de aprimorar cada movimento, a busca constante por aperfeiçoamento e a entrega completa aos treinos que moldam verdadeiramente um praticante. Desde os primeiros passos na faixa branca até o status de um faixa vermelha, a dedicação é a força motriz que impulsiona o artista marcial a superar desafios, inspirando não apenas através da maestria técnica, mas também transcende as barreiras do treino físico, refletindo-se na ética, no respeito e na constante busca pelo aprimoramento pessoal, tornando cada movimento uma expressão vívida desse compromisso.

“Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado.” – Provérbio Chinês

Faixa verde (Disciplina)

Um faixa verde tem a responsabilidade de manter a disciplina na escola, cuidando dos menos graduados e servindo como exemplo de dedicação nos treinos. Além disso, têm o papel de difundir e exemplificar a filosofia marcial do kung fu para os demais alunos, transmitindo não apenas técnicas, mas também os valores e princípios que permeiam essa prática.

A virtude da faixa verde é a disciplina. É a estrutura que sustenta a constância nos treinos, a manutenção rigorosa dos princípios éticos e a concentração inabalável durante a prática. Nem sempre o aluno estará motivado, portanto é a disciplina que o fará alcançar os seus objetivos. É essa disciplina que cria a base sólida para a excelência técnica, para a conexão entre corpo e mente, refletindo não apenas na destreza física, mas também na harmonia interior do praticante.

“O maior dos conquistadores não é o que, em batalha, vence milhares de homens, mas o vencedor de si mesmo.” – Buda

Faixa azul (Lealdade)

O papel do faixa azul vai estende-se à promoção de um espírito de unidade e cooperação dentro da escola. Espera-se que ele seja um exemplo na criação de um ambiente onde todos se vejam como parte de uma grande família, incentivando ativamente a cultura de apoio mútuo entre os alunos, independentemente de suas graduações.

Na fase atual, a virtude fundamental é a lealdade, manifestando-se não apenas no acolhimento aos demais alunos dentro da escola, mas principalmente em relação a Mestre e/ou Sifus. A lealdade não é apenas um compromisso superficial; é a expressão profunda de respeito, confiança e fidelidade. Nesse contexto, ela é alicerçada na dedicação constante, na preservação da tradição e na construção de uma união sólida entre mestre e discípulo, enriquecendo não apenas a jornada individual, mas fortalecendo a essência coletiva da prática marcial.

“Conhecimento vem do seu professor. Sabedoria, do seu interior.” – Bruce Lee

Faixa marrom (Humildade)

É na faixa marrom, que o praticante assume o papel de instrutor dos demais alunos, dando aulas, transmitindo saberes sobre treinos, técnicas e filosofia, enquanto zelam pela manutenção do ambiente escolar, assegurando limpeza e conservação. Além disso, desempenham um papel ativo na organização de eventos e na atribuição de funções, sempre com o propósito de promover o bem coletivo.

Na jornada do faixa marrom, a virtude a ser cultivada é a humildade. É fundamental compreender que o verdadeiro caminho na arte marcial começa apenas na faixa preta. Apesar de possuírem conhecimentos mais avançados em relação aos alunos mais novos, é essencial que não permitam que o ego se sobreponha. A humildade é o alicerce que os mantém conectados à constante busca pelo aprendizado, lembrando que sempre há mais para ser compreendido e aprimorado. É um equilíbrio delicado entre a sabedoria adquirida e a abertura para novas experiências, permitindo que sejam líderes respeitados, mas também aprendizes dedicados ao longo de sua jornada na arte marcial.

“Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho.” – Provérbio Chinês

Faixa preta (Exemplo)

Ao atingir a graduação de faixa preta, você não apenas alcança um novo patamar de habilidade, mas também se torna um representante da família Punhos Unidos, desempenhando um papel crucial como exemplo para os alunos mais novos. Nessa posição de destaque, é imperativo que o faixa preta zele pela família, preserve as tradições da Família Hung Gar e Punhos Unidos, e leve adiante os frutos do seu aprendizado. 

A virtude que define essa faixa é, precisamente, o exemplo. Como faixa preta, você se transforma em uma referência viva para os mais jovens que optam por seguir seus passos. Portanto, é crucial agir de maneira condizente com essa posição, incorporando os valores e princípios da arte marcial em todas as suas ações. A responsabilidade de influenciar positivamente transcende os limites do tatame, pois, mesmo que o praticante não escolha uma carreira diretamente ligada à Arte Marcial, o Kung Fu deve ser uma força transformadora em seu mundo e naqueles ao seu redor.

“A árvore não prova a doçura dos próprios frutos; o rio não bebe suas próprias ondas; as nuvens não despejam água sobre si mesmas. A força dos bons deve ser usada para benefício de todos.” – Provérbio Hindu